A nostalgia é um sentimento muito próprio da espécie humana. O relembrar de momentos passados é algo que de vez em quando acomete o ser humano, fazendo-o romantizar épocas que, por uma ou por outra razão, tenham deixado uma marca na sua memória. Isto tem-se feito notar nos variados meios de expressão artística, como no cinema (com a utilização de estéticas próprias de outras eras), na música (tendo-se assistido recentemente a um grande reavivar das sonoridades dos anos 80), ou naquilo que nos interessa aqui que são os videojogos. É então nesta senda que nos é apresentado Huntdown, um jogo que nem sequer tenta esconder a sua inclinação para emular as características dos jogos de outrora, incorporando vários traços predominantes no cinema e na música dos anos 80 e 90.
Ode aos Anos 80
Huntdown é um jogo de premissas muito simples e de fácil compreensão. Desde logo em relação à narrativa, o jogo coloca-nos na pele de um de três agentes de um bando de mercenários (a agência Shimamoto), que tem a missão de livrar as ruas dos criminosos aos quais nem as próprias forças policiais convencionais conseguem deitar a mão. Isto tem lugar num cenário futurista, em ruas onde predominam os painéis de néon e os grafitis, bem com o crime e os cartuchos de balas usados. Com esta panorâmica, o jogador tem a missão de livrar as ruas dos criminosos, um cabecilha de cada vez, sendo cada um dos níveis subordinado a um gangue temático diferente. No início de cada um desses níveis, temos ainda direito a um briefing que nos é dado por uma personagem de seu nome Wolfmother, que dá uma nota de personalidade muito agradável a este jogo.
A jogabilidade de Huntdown é a esperada de um qualquer run and gun da era 16-bit, ou seja, percorremos os diferentes níveis de arma em punho atirando em tudo o que mexe, deixando um rasto de destruição à nossa passagem. Se quiserem uma comparação, pensem no que seria um Metal Slug no cenário futurista acima descrito, e têm assim uma imagem bastante precisa daquilo que é jogar Huntdown.
Os controlos respondem bem e são raras as vezes em que os podemos culpar do nosso fracasso. A quantidade de armas disponíveis é assinável, embora por vezes pareça que a diferença entre algumas delas não seja assim tão notória. Deve ainda ser referido que os níveis que compõem esta experiência são de relativamente curtos, o que os torna bastante digeríveis para sessões de jogo temporalmente menores. Os checkpoints também são consideravelmente abundantes, o que evita facilmente momentos de frustração cada vez que tivermos de recomeçar por termos sido abatidos por um meliante, ou por termos caído num precipício.
Não quero com isto dizer que se trata de um jogo fácil, porque não é. A sua dificuldade é equilibrada, oferecendo um bom desafio com uma descarga de endorfinas bastante satisfatória, seja quando passamos por aquela parte mais difícil do nível ou quando conseguimos esvaziar a barra de energia de um boss, o qual parecia impossível de derrotar à primeira vista.
Em termos visuais, Huntdown segue uma estética assente no pixel-art reminiscente da era 16-bit, conseguindo capturar de forma eficaz a essência deste estilo. Existe ainda uma opção para ativar um filtro de CRT que tenta imitar os displays que eram mais frequentes nessa altura. Com efeito, não estranharíamos se nos mostrassem imagens deste jogo e nos dissessem que havia sido lançado no início dos anos 90, tal é a fidelidade apresentada em relação a essa tão marcante era dos videojogos. No entanto, deve também ser referido que a qualidade dos sprites não é por aí além, fazendo apenas o seu trabalho de forma razoável. Para além disso, as animações são escassas no que à quantidade das mesmas diz respeito. Apesar disto, a parte visual cumpre a sua função, veiculando a atmosfera que o jogo pretende de forma eficaz, transportando o jogador para o seu mundo.
Sintetizadores em Barda
A parte sonora de Huntdown foi aquela que mais conseguiu captar a minha atenção enquanto jogava. O trabalho de vozes e os filtros aplicados a essas mesmas vozes, não estariam fora de lugar num qualquer filme de acção do final dos anos 80 e dos anos 90. Especial destaque para alguns one-liners que vão sendo vociferados pelos personagens ao longo da acção, como por exemplo “Hail to the king, baby”, uma referência a Duke Nukem, outro franchise da época e um pormenor que ajuda positivamente na criação do ambiente pretendido.
A banda sonora de Huntdown é de grande qualidade e assenta que nem uma luva nesta experiência, colocando o jogador no humor necessário para o desbaste de hordas de criminosos, com temas que vão deste o synth–rock ao rock electrónico tão próprios dos anos 80, tendo variedade mais do que suficiente para nunca maçar. A acrescentar a isto temos os efeitos sonoros que estão bem conseguidos e que adicionam valor ao jogo. Isto pode parecer um pormenor pouco importante, mas num título em que se disparam muitas armas, é importante ter feedback sonoro daquilo que estamos a fazer, para além do feedback visual.
Curto e Grosso
Huntdown é um jogo que cumpre o papel a que se propõe, apesar de algumas falhas que poderiam fazer com que fosse mais agradável do que aquilo que já é. Sem querer retirar o mérito que lhe é devido, acaba por ser demasiado simplista e a sua execução não surpreende muito pois acaba por não ter algo que o distinga de outros tantos shooters que já jogamos. Para além disso, e apesar de ser desafiante, também achei algo curto e sem grande valor em relação a voltar a jogar depois de os créditos finais terem aparecido, mesmo com as diferenças apresentadas pelas três personagens jogáveis.
Com tudo o que foi dito, Huntdown é um jogo que faz muito bem aquilo a que se propõe, ou seja, é um fiel retrato do ambiente transmitido pelos jogos run and gun dos anos 90, com um cheirinho a cinema de acção do final dos anos 80. Para os fãs deste tipo de jogo, este é um produto capaz de proporcionar bons momentos de diversão e de nostalgia. Porém, é importante notar que a falta de elementos diferenciadores em relação a outras ofertas do mesmo género, faz com que Huntdown não consiga apelar a outros públicos que de outra forma o iriam apreciar.
Estilo retro bem conseguido
Banda sonora vibrante
Muitas referências dos anos 80 e 90
Co-op local de 2 jogadores
Relativamente curto
Nada que o distinga de outros jogos do género
Data de Lançamento: 12 de Maio de 2020
Produtora: Easy Trigger Games
Editora: Coffee Stain Studios
Género: Ação, Arcade
Disponível para: Playstation 4, Xbox One, PC, Nintendo Switch
Foi disponibilizada uma cópia para análise por parte da Swipe Right PR.