Liberté, Égalité, Fraternité, mas dito em chinês
Num recontar alternativo da Revolução Francesa, Pauline Bonaparte, irmã de Napoleão Bonaparte, é uma jovem e carismática general no campo de batalha.
Hasteando o estandarte da lendária Joana d’Arc, ela lidera as tropas Francesas, campanha atrás de campanha, enquanto cultiva a sua influência junto das várias fações dissidentes e figuras monárquicas da França pré-revolucionária.

Da École Militaire para as ruas de Paris
Banner of the Maid é um jogo de estratégia por turnos, ao estilo de grandes clássicos das consolas portáteis da Nintendo, como Tactics Ogre ou Fire Emblem. O facto de que este jogo foi portado do PC e Playstation 4 para a Switch, passa despercebido graças à fluidez da adaptação e ao facto da jogabilidade se adequar perfeitamente à versatilidade da consola.
Ao contrário da vasta maioria no género, a ficção em Banner of the Maid é livremente baseada em eventos históricos. Eventos estes relacionados com a revolução Francesa do final do século XVIII. Porém, apenas superficialmente relacionados, pois as semelhanças com a realidade não vão muito para além de nomes de personagens, fações históricas intervenientes e de localidades que serviram de palco a batalhas ou eventos cruciais.
Alguns detalhes são tão divergentes que nem se pode afirmar tratar-se de uma adaptação histórica, mas sim de um reinventar dos acontecimentos, o que em si não é uma menos-valia, pelo contrário. A atenção dada aos múltiplos intervenientes na história real, justaposta à originalidade na recriação dos mesmos, torna a crónica de Banner of the Maid única e envolvente, com particular interesse para aqueles que conseguirem detetar as múltiplas referências a acontecimentos reais na sua narração alternativa

Com isso presente, o progresso da narrativa central é linear, acentuado pelo facto deste se desenvolver missão a missão. Por outro lado, a complexidade dos vários componentes paralelos que impactam na narração principal, enriquecem bastante a mesma, podendo até, baralhar quem for menos atento ou conhecedor dos eventos históricos rodeantes, de tão intricados e superficialmente descritos que são.
Para um jogo desenvolvido por uma empresa Chinesa, os esforços levados a cabo na tradução para o Inglês e a atenção aos detalhes da história Francesa, são louváveis. No entanto, dependo da fluência do jogador na língua Inglesa, algumas características idiomáticas do discurso parecerão fora de lugar para o contexto de quem as emprega. Isto, apesar de não se verem erros gramaticais.

De sabres bem afiados e mosquetes carregados
Como outros do género, sem dúvida que a história ocupa um lugar de destaque em Banner of the Maid, tendo em conta que metade do tempo se passa a ler diálogos entre os personagens. A outra metade, é passada em combate ou preparação para o mesmo e, assim sendo, é importante que este esteja bem desenvolvido.
A jogabilidade, como referido, é muito semelhante à dos gigantes do género de JRPG tático. A cada turno, manipulamos as diversas unidades sob o nosso comando, sendo que, cada unidade tem direito a um movimento antes de empregar uma habilidade, ou item, que dá por terminada a sua ação.
As unidades possuem vários atributos que ditam a sua eficácia em combate e é crucial conhecê-las bem, assim como à interação e eventuais sinergias entre os diferentes tipos de tropas e as suas habilidades especiais, para se ter sucesso em batalha.
O jogo possui duas dificuldades, mas mesmo na mais fácil, os combates são bem extensos e exigem um bom planeamento e desenvolvimento tático. Isto adquire um brilho especial, não estivéssemos nós a controlar alguns dos generais mais notáveis da revolução francesa – incluindo nomes sonantes como Napoleão Bonaparte.

Podemos gravar, carregar, e pausar o jogo a qualquer altura. Verificar o alcance e atributos das tropas inimigas, informação do terreno, forças e fraquezas das diferentes unidades, possível resultado de determinado confronto, calibrar o movimento do cursor a gosto, etc. Tudo de forma prática e intuitiva.
No confronto entre diferentes unidades, somos presenteados com uma animação caricata das tropas em combate, que também pode ser desativada ou reativada com um simples premir de um botão.
Em suma, a jogabilidade é fluída e permite focar a nossa atenção naquilo que realmente interessa, como o posicionamento das unidades e medidas por estas tomadas, bem como realizar a gestão dos seus recursos – por exemplo, munições ou moral das nossas tropas.
A introdução dos inúmeros elementos que afetam o desempenho nos combates é progressiva e bem explicada, tais como o efeito da elevação no alcance e poder da artilharia, ou o impacto que as condições meteorológicas têm no combate. Existe, de facto, muito a se ter em conta durante uma batalha, as quais, geralmente, têm tanto de exigentes como de longas, com múltiplos reforços a chegar a todo o momento e objetivos adicionais a cumprir.

A Revolução ao estilo Donghua
A música de época faz um bom trabalho a consolidar a ambiência que o jogo procura criar, não sendo, contudo, memorável. Como típico num jogo com centenas de diálogos, apenas algumas frases genéricas para cada personagem são dobradas e estão todas em chinês.
Porém, é na arte visual onde Banner of the Maid prima pela excelência. Não fosse o título do jogo uma referência direta ao estandarte de Joana d’Arc – apelidada de Donzela de Orleães ou, em Inglês, ”the Maid of Orléans” – as personagens femininas são, em grande parte, o fulcro da história e estão tão diversamente estilizadas como as figuras históricas nas quais são baseadas.
Podemos contar com uma apelativa e detalhada ilustração de todos os intervenientes, com um grau de qualidade elevado e que não deteriora quando passamos do pequeno para o grande ecrã. Como não se podia deixar de referir, apesar da proeminência de alguns decotes e dos atributos físicos que estes evidenciam, o grafismo não se prende pela exagerada sexualização das personalidades. Na verdade, e como já referido, o estilo dos personagens é bem diversificado, tal como as suas personalidades na narração e prestação em combate.
O Estandarte da Donzela
Em Banner of the Maid, temos um dos mais polidos jogos de estratégia por turno, com uma menos que polida localização ocidental. A história original, aludindo eventos reais, está muito bem conseguida e a vibrante arte gráfica, solidifica o jogo como um produto de qualidade.
Dezenas de missões para superar e personagens para descobrir garantem uma longevidade saudável e, o nível exigente de dificuldade e existência de caminhos alternativos, assegura que se volta a jogar o título após o completar pela primeira vez.
Combate tático exigente
Arte visual de elevada qualidade
Boa longevidade
Combates por vezes morosos demais
Alguns problemas na localização
Data de Lançamento: 12 de agosto de 2020
Produtora: Azure Flame Studio
Editora: CE-Asia
Género: Estratégia, RPG
Disponível para: PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch
Foi disponibilizado um código para análise (Nintendo Switch) por parte da editora.